terça-feira, 3 de agosto de 2010

Acreditar?



Acreditar em quê? Se a desfaçatez e a ilusão do mágico perverso domina o espírito frágil e neófito do povo ingênuo. Será ingênuo? Ou dissimulado, escondendo o lado feio do caráter do espírito, aplaudindo sem-vergonhamente o “herói”: simples, emocional, passional, sonhador que consegui realizar uma proeza, uma utopia. – É, me vejo lá; igualmente falando errado, tergiversando a verdade, aplicando uma mentirinha, iludindo com a conversa fiada, igualando a delinqüência: “-ele também fez!”, emocionando o coração mole e o cérebro ingênuo e ignorante do saber. A mente insana e embriagando multidões que não quer pensar com a “verdade” que se quer iludir e sonhar em vão e obter as respostas mais factíveis com o presente, que se resolve o agora, não importando o depois, as soluções baratas e passageiras. Como o porre que embriaga, alegra e poder aparente, embora depois venha a ressaca e a pior dor de cabeça. É o sucesso do herói pobre que conseguiu ser algo na vida. É o sonho de multidões e multidões de excluídos realizado por um deles.
Vale a incompetência, a ineficiência. Vale até: se ele fez, é permitido eu fazer, mesmo que seja errado. É a nova moral: se eu estivesse lá, também fazia. Será que e a herança da parte maléfica dos nossos colonizadores. Pelo visto os patrícios foram maus e cruéis com a gente.
Deixando-nos prisioneiros de sentimentos passionais, comportamentos de pequenas delinqüências aceitas como normais e desculpáveis.

Com isso, a nossa frágil e capengante democracia, parece que ainda não saiu das garras revolucionárias. Surgem antiquados discursos e manifestações de indivíduos que foram ungidos ao poder pelo voto popular e com o mesmo viés na boca fazem comparações com que se, somente agora, estivéssemos sendo libertado do jugo do autoritarismo ou do senhor da província. Já se vão mais de duas décadas que elegemos democraticamente nossos representantes políticos e esperava-se que viveríamos um porre seguido da conseqüente ressaca, para depois exercermos na normalidade a consolidação da nossa democracia. Porém, a ressaca foi longa demais. Voltamos para o porre e cada vez mais prolongado, com danosos efeitos para o futuro. O nivelamento é por baixo: na ética, na prática da democracia, na formação do caráter nacional, na qualificação intelectual e técnica, com a dominação e o crescimento cada vez maior de hordas de analfabetos funcionais, aplaudindo os dissimulados discursos de seus líderes e gerando uma grande massa de dependentes do poder público, pela falta de opção – que nem percebem –, motivação e melhor expectativa de vida a ser alcançada. O importante é aqui, agora. É o inverso da democracia que queremos? Acreditar em quê?




Joaquim Corado

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